Quando uma crise pode não ser epiléptica?
Na neurologia, existe uma condição chamada “crises não epilépticas psicogênicas” (CNEP), definida por mudanças abruptas no comportamento e consciência que sugerem crises epilépticas, mas sem alterações eletroencefalográficas concomitantes. Isso quer dizer que há crises que, apesar de muito parecidas com crises epilépticas, não são. Se, durante esse tipo de crise, monitorarmos o paciente com o exame eletroencefalograma, não veremos nenhuma alteração.
Em crianças, as CNEPs são mais raras do que no adulto e podem ocorrer em quem já tem o diagnóstico de epilepsia. Devemos suspeitar de CNEP em crianças quando as crises são muito frequentes, apesar do tratamento farmacológico adequado; as crises se manifestam com características clínicas incomuns; os eletroencefalogramas são repetidamente normais; e se os eventos são precedidos ou desencadeados por estresse ou ansiedade.
Além de diagnosticar a CNEP, é relevante ampliar o nosso olhar para possíveis comorbidades associadas, como: depressão, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade, deficiência intelectual e transtornos específicos de aprendizagem. Assim como para os fatores estressores relacionados: problemas familiares, dificuldades escolares e baixa autoestima.
É muito importante reconhecer essa condição na criança, para evitar o uso desnecessário de medicações e prevenir comorbidades psicológicas e psiquiátricas. O acompanhamento interdisciplinar é essencial, com atenção para os possíveis transtornos de humor e fatores estressores associados. A terapia cognitivo comportamental, com o psicólogo, é a primeira linha de tratamento, além do uso de medicações para tratar ansiedade e depressão quando presentes.
Fontes: Operto FF, Coppola G, Mazza R, et al. Psychogenic nonepileptic seizures in pediatric population: A review. Brain Behav. 2019;9:e01406. doi: 10.1002/brb3.1406. Gasparini S, Beghi E, Ferlazzo E, et al. Management of psychogenic non-epileptic seizures: a multidisciplinary approach. Eur J Neurol. 2019;26:205-e15. doi: 10.1111/ene.13818.
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