Ensino

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O autismo, ou transtorno do espectro autista (TEA), é definido por dificuldades persistentes na comunicação e na interação social, associadas a padrões restritos e repetitivos de comportamento, que se iniciam de forma precoce e levam a prejuízos no cotidiano.

As dificuldades sociais do autismo consistem em alterações em perceber os sentimentos dos outros, elaborar uma conversa, compartilhar interesses e emoções, realizar contato visual, usar a linguagem corporal e desenvolver brincadeiras imaginativas. Já os padrões de comportamentos repetitivos do TEA envolvem brincadeiras peculiares, por exemplo, enfileirar os brinquedos e estereotipias; resistência em mudar a sua rotina e sofrimento com pequenas mudanças nos seus hábitos; interesse ou foco excessivo em determinado personagem, brincadeira ou objeto; além de alterações sensoriais, como indiferença à dor, reação extrema ao som, seletividade alimentar.

Hoje falamos em espectro do autismo, porque há crianças com sintomas muito leves, que, com um toque de suporte de uma boa equipe, consegue já superar suas dificuldades; até crianças autistas com maiores dificuldades, incluindo, por exemplo, limitações importantes na expressão verbal. Essas últimas podem precisar de mais tempo e de uma variedade maior de profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar, com acompanhamentos em psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Outro aspecto interessante, é que as dificuldades relacionadas ao autismo, ao longo do tempo, podem aumentar de acordo com a demanda social do momento e da etapa da vida escolar, mas também podem diminuir, especialmente quando as crianças são assistidas por uma equipe multidisciplinar de profissionais especializados. Os objetivos das terapias são buscar qualidade de vida para os pacientes com TEA e torná-los mais felizes e independentes na vida social, acadêmica e profissional.

Fonte: de Psiquiatria AA. Manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais: DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Enxaqueca ou migrânea é um tipo específico de dor de cabeça. Segundo as definições da Sociedade Internacional de Cefaleia, enxaqueca, em crianças e adolescentes (abaixo de 18 anos), é uma dor de cabeça recorrente, em crises que duram de 2 a 72 horas, uni ou bilateral, pulsátil, de intensidade moderada a grave, que piora às atividades físicas e associa-se a náuseas, vômitos, fotofobia e/ou fonofobia (intolerância à luz e ao som, respectivamente). Algumas vezes, podem ocorrer sintomas visuais, sensitivos, motores e alterações da linguagem ou fala, quando esses sintomas estão presentes, chamamos de “migrânea com aura”. Um aspecto interessante da enxaqueca é que é comum encontrarmos outros familiares com dores de características parecidas. Além disso, temos que tomar cuidado, pois o uso de analgésicos simples podem aliviar a dor, mas, se usados com muita frequência, podem tornar a enxaqueca crônica.

Alguns sinais sugerem investigação clínica mais profunda quando presentes, como:

  • Comprometimento de nível de consciência, como confusão mental e/ou desorientação;
  • Dor de cabeça posterior (occipital);
  • Dor de cabeça que acorda a criança durante a noite;
  • Dor de caráter progressivo;
  • Dor de início recente;
  • Exame neurológico alterado;
  • Início da dor antes dos 6 anos de idade;
  • Primeira ou pior dor de cabeça da vida;
  • Vômitos muito frequentes.

Fonte: Headache Classification Committee of the International Headache Society. The International Classification of Headache Disorders. Cephalalgia 2018; 38 (3rd edition): 1-211

https://ichd-3.org/1-migraine/1-1-migraine-without-aura/

Epilepsia é uma doença do cérebro que ocasiona predisposição persistente de gerar crises epilépticas e/ou convulsões. As crises epilépticas, incluindo a convulsão, são a ocorrência transitória de sinais e sintomas causados por atividade síncrona ou excessiva dos neurônios (células do cérebro). Os sinais e sintomas podem ser alteração do nível de consciência, eventos motores, sensitivos ou psíquicos, que são involuntários. As crises epilépticas e/ou convulsões podem levar a consequências cognitivas, psicológicas e sociais.

Epilepsia é uma doença complexa e heterogênea. Alguns tipos de epilepsia podem definir síndromes epilépticas, que buscam agrupar certos conjuntos de características clínicas para ajudar no tratamento e acompanhamento dos pacientes. Essas síndromes epilépticas são estabelecidas pelos tipos de crises, seus sinais e sintomas, alterações no exame do eletroencefalograma, achados de neuroimagem (ressonância magnética de crânio, tomografia computadorizada de crânio), idade de início e de melhora das crises, fatores desencadeantes das crises, prognóstico e comorbidades, por exemplo, problemas intelectuais e psiquiátricos possivelmente envolvidos. Alguns exemplos de síndromes epilépticas que ocorrem na infância são: síndrome de West (dos espasmos infantis), síndrome de Dravet e síndrome de Lennox-Gastaut.

Além da classificação em síndromes epilépticas, nós também podemos classificar cada tipo de crise. Os dois principais tipos de crise são as crises generalizadas e as crises focais. As crises generalizadas envolvem as redes neurais bilateralmente, podendo incluir estruturas do córtex (camada externa do cérebro, formada de substância cinzenta, que, por sua vez, é formada pelo corpo dos neurônios) e abaixo do córtex cerebral (subcorticais), frequentemente se manifestam com uma convulsão. Já as crises focais se iniciam em um ponto específico do hemisfério cerebral, podendo ser bem localizadas ou um pouco mais amplas, por vezes com sintomas mais sutis.

Por que isso é importante? A depender do tipo de crise epiléptica e de síndrome epiléptica, o neuropediatra pode instituir tratamentos mais individualizados e eficazes. Na investigação das causas de epilepsia e de convulsões, a história da gestação, nascimento, desenvolvimento, presença de outras doenças, história familiar e exame físico e neurológico são extremamente relevantes. Exames complementares podem ser necessários, como o eletroencefalograma, neuroimagem e, algumas vezes, até exames genéticos.

Fontes:

  • Fisher RS, van Emde Boas W, Blume W, Elger C, Genton P, Lee P, Engel J Jr. International League Against Epilepsy. Epileptic Seizures and Epilepsy: Definitions Proposed By the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE). Epilepsia, 46(4):470-472, 2005
  • Zuberi SM, Wirrell E, Yozawitz E, Wilmshurst JM, Specchio N, Riney K, et al. ILAE classification and definition of epilepsy syndromes with onset in neonates and infants: Position statement by the ILAE Task Force on Nosology and Definitions. Epilepsia 2022.

Paralisia cerebral, atualmente chamada de encefalopatia crônica não progressiva (ECNP), é um grupo de doenças permanentes do desenvolvimento motor e postura, que levam à limitação de atividades, causadas por eventos não progressivos ocorridos no cérebro fetal ou da criança em desenvolvimento.

São dificuldades motoras e, muitas vezes, cognitivas, que acontecem por algum problema ocorrido durante a gestação ou nos primeiros anos de vida, enquanto o sistema nervoso central ainda se encontrava em desenvolvimento. Por exemplo, uma infecção durante a gestação, meningite nos primeiros meses de idade, isquemia ou sangramento no cérebro no início da vida, entre outras intercorrências, podem levar a lesões permanentes e não progressivas no encéfalo, que têm como consequência central o comprometimento motor durante a vida.

Associados aos problemas motores, são frequentes as dificuldades cognitivas e de comunicação, alterações comportamentais, epilepsia e distúrbios músculo-esqueléticos. Muitas vezes, portanto, essas crianças precisam, além do neuropediatra, de uma equipe multidisciplinar, com fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia para ajudar a desenvolver as funções do dia-a-dia e diminuir as chances de dor.

 

Fonte: Novak I, Morgan C, Fahey M, Finch-Edmondson M, Galea C, Hines A, et al. State of the evidence traffic lights 2019: systematic review of interventions for preventing and treating children with cerebral palsy. Curr Neurol Neurosci Rep 2020;20:1–21.

O TDAH é o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, que é um transtorno do neurodesenvolvimento com prejuízo da atenção e/ou hiperatividade. Inicia-se antes dos 12 anos de idade, acontece em vários ambientes e dura mais de 6 meses. A falta de atenção é quando, frequentemente, o indivíduo não presta atenção em detalhes, não consegue manter atenção em tarefas até o final, parece não escutar quando é chamado pelo nome, tem dificuldade em se organizar, perde as suas coisas por aí, é facilmente distraído e/ou é considerado uma pessoa esquecida. Já a hiperatividade é quando, frequentemente, a criança remexe, batuca, levanta da cadeira, corre e sobre nas coisas, não para quieta, fala demais, interrompe, responde antes de terminarem a pergunta, tem dificuldade em esperar sua vez, e/ou apresenta dificuldades em brincar ou se envolver em uma atividade de forma calma.

Esses sintomas não precisam estar todos presentes, mas existe um número mínimo de sintomas de desatenção e/ou hiperatividade para considerarmos o diagnóstico. E ainda, o TDAH pode se manifestar com predomínio de sintomas de dificuldades de atenção ou de hiperatividade, ou mesmo ser uma forma combinada de ambos. Dessa forma, a neurologia, psiquiatria e/ou psicologia são muito importantes para definir o diagnóstico preciso, além da elaborar um plano terapêutico para que o cotidiano se torne mais leve, seja na vida pessoal, escolar ou profissional.

Fonte: de Psiquiatria AA. Manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais: DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Os transtornos de aprendizagem são dificuldades acadêmicas e de aprendizagem, em leitura, escrita e/ou matemática, que ocorrem especialmente na escola e no trabalho. Os problemas são persistentes em: leitura, compreensão, ortografia, gramática, numérica e/ou raciocínio. O início dos sintomas ocorrem nos anos escolares, quando as crianças têm um desempenho abaixo do esperado para sua idade, e isso não é explicado por outras causas, como por problemas de visão ou auditivos, outras doenças neurológicas, intercorrências sociais e psicológicas, ou mesmo falta de qualidade educacional.

Esses transtornos podem se apresentar com maior prejuízo na leitura, na escrita ou na matemática. Antigamente, eram usados com frequência os termos dislexia e discalculia para dificuldades específicas de leitura e escrita ou matemática, respectivamente. Alguns exemplos de como podem se manifestar são:

  • Leitura de palavras de forma incorreta, lenta, hesitante e com esforço (sintomas de “dislexia”);
  • Dificuldade em leitura, de compreender e interpretar (sintomas de “dislexia”);
  • Na escrita, adição, omissão ou substituição de vogais e consoantes;
  • Presença de múltiplos erros de pontuação nas frases;
  • Expressão escrita das ideias no texto sem clareza;
  • Em matemática, necessidade de contar com os dedos para adicionar os números (sintomas de “discalculia”);
  • Dificuldades no raciocínio, por exemplo, ao solucionar problemas matemáticos.

O suporte psicopedagógico, aulas de reforço escolar e, muitas vezes, acompanhamento psicológico são importantes para o progresso no desempenho acadêmico e de habilidades em escrita, leitura e matemática. Além da psicopedagogia e psicologia, a fonoaudiologia também tem papel essencial, especialmente nos transtornos de aprendizagem relacionados a escrita e leitura.

Fonte: de Psiquiatria AA. Manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais: DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014.

jj
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